domingo, 31 de janeiro de 2010

HISTÓRIAS ... HISTÓRIAS , por ROSA GUERRERA

Vez em quando gosto de sair dirigindo sem rumo certo , atôa, no vagar irregular das estradas, minhas velhas companheiras. É como se todo o meu Eu precisasse desse parênteses , dessa libertação, de uma pausa diferente para o cotidiano tantas vezes antipático.
Paro numa praça, desço do carro, chuto pedrinhas nas calçadas, perco o relógio, passo em frente a uma Igreja , penso nas poucas crenças e nos muitos deuses, olho os bares cheios de homens vazios , dou um sorriso para um moleque que me observa ...e continuo andando .
Penso nas muitas histórias de vida que me contaram, nos amores que vivi, nas promessas escutadas,nas injúrias recebidas,e fico surpresa com a minha neutralidade.
Sento depois num banco de praça e acendo absorta um cigarro. Dou três ou quatro tragos e resolvo joga-lo fora , olhando distraída a fumaça que desaparece no vento.
Um edifício cresce a minha frente!
E parece me contar histórias de um monte de tijolos, pás, andaimes e cimento.
Amanhã moradores desse “ espigão” terão também outras histórias para contar .
Contrastes da vida ! Paradoxos sem explicações !
Uma canção chega aos meus ouvidos., vinda de um rádio distante : “Esse beijo molhado /escandalizado/ que você me deu/” ... ( até que alguns beijos a gente nunca esquece mesmo.)
Vinicius me vem a mente : “Porque foste na minha vida/a ultima esperança/e encontrar-te me fez criança “/... De onde será que Vinicius colheu a história dessa música ?
Vida, vida ....ponto irregular entre o tudo e talvez o nada!
Esse meu caminhar hoje atôa , essa mania infantil de procurar histórias nas ruas, essa paisagem diferente em forma de carro estacionado,cigarro jogado fora, relógio perdido , músicas, saudades , praças vazias ...
De repente alguém perturba o meu silêncio ou a minha história , colocando no mais alto volume no som de um velho Corcel parado defronte a um bar , um sambinha que eu não o escutava faz um tempão : “ Tire o seu sorriso do caminho/ que eu quero passar com a minha dor “/
Resolvo voltar para casa!
Ligo o carro e dirigindo bem devagar , vou cantarolando bem baixinho :
“Tire o seu sorriso do caminho / que eu quero passar /com a minha dor / hoje pra você eu sou espinho/ espinho não machuca a flor .....
Histórias ... histórias !

sábado, 30 de janeiro de 2010

VELHO LIVRO

COMPARO A MINHA VIDA

A UM VELHO LIVRO

DE CONTABILIDADE ...

ONDE TODOS OS PREJUIZOS QUE TIVE

FORAM MOTIVADOS POR UM ÊRRO DE CÁLCULO :

ANTECIPEI O CORAÇÃO À RAZÃO ...

E SEM PRESSENTIR

TROPECEI NA MINHA PRÓPRIA SOMBRA .

QUANDO...


Quando lembro você tudo fica nublado!

A própria natureza parece perder toda a razão de ser.


E me aborrece conhecer outros beijos hoje,

ouvir promessas , sentir carinhos,

abrir meus braços a novos abraços.


Quando lembro você

sinto saudade de tudo.

Saudade da minha infância ,

do primeiro beijo,

do primeiro pecado,

da paisagem colorida

dos meus sonhos puerís.


E na impaciência complexa

desses pensamentos fragmentados,

me aborrece muitas vezes

essa saudade contínua ,

que insiste,

que me abate ,

que implora

para ficar sempre com você .

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

MAKTUB

Meio dia ! Sol a pino. Gente que se acotovela nos ônibus , nos taxis, nos metrôs e avenidas.
Gente tão próxima e ao mesmo tempo tão distante.
Caminho também desconhecida pela multidão. Vou soprando velas quase apagadas , deitando esperanças por entre os rios e as correntezas.
Sinto a tua presença ao meu lado! E num panorama vazio nossas lembranças se fundem.
A palavra "Maktub" surge na minha mente: "estava escrito"... "tinha que acontecer".
Exatamente como tudo que acontece mesmo na vida da gente . O encontro, o sorriso, a verdade, a ilusão ou até o mergulho no nada.
E o povo indiferente ao que penso segue se acotovelando, enfrentando o calor,o sol a pino,nos onibus, nos taxis, nos metrôs e avenidas ...
Continuam os encontros , os esbarros e as saudades também.
Maktub : aconteceu ! Estava escrito !

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

OBRIGADA MEU AMIGO

Posso omitir o seu nome , mas não deixaria jamais de publicar a mensagem tão linda que voce me mandou . Hei de conserva-la não apenas nesse blog, mas também no fundo do meu coração .
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"Não sou poeta , Nunca soube descrever o destino. Pode ser que sejamos amigos , pode ser somente bons camaradas .
Muita coisa ele já me deu de presente .Muitas coisas ele fez questão de deletar.
Fiz muitas tentativas para conseguir um flash back da felicidade que por muitos anos eu conhecí.
Em vão !
Joguei com o destino todos os jogos que ele me convidou .
Vencí muitos torneios arriscando num toque mágico até a felicidade.
O tabuleiro caiu no chão e as cartas se misturaram com botões espalhados .
Saí perdedor . E me retraí na fuga de nunca mais jogar.
Me transformei num jardineiro.
E cultivo hoje a mais linda ROSA no meu jardim ."

sábado, 23 de janeiro de 2010

POETAS


Pensei em te dar um rio repleto de ternura ,

mas esqueci que todo rio corre e desaparece no mar.

Pensei em te dar uma árvore cheia de frutos,

mas esqueci que no inverno ela parece sucumbir á chuva .

Pensei em te dar o céu sempre estrelado ...

E esqueci também que núvens cinzentas podem apagá-lo.

Pensei em te dar canteiros de flores...

E esqueci de regá-las ..

Pensei na vida como um livro apenas meu,

E não observei que suas páginas pertenciam ao destino.


Hoje sou rio seco,árvore sem frutos e céu nublado.

Canteiro com rosas murchas.

Livro com páginas rasgadas.

Porto sem navios .

Pássaro mudo .

Harpa sem cordas .

Som sem ritmo.

Passos sem rumo...

E no coração a dura certeza de que :

O amor completo só existe mesmo na pena dos poetas !

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

UM AVIÃO NO ESPAÇO AZUL.



Um avião passeia pelo espaço saudando com o seu ronco os homens que passam indiferentes pelas ruas. Algumas crianças levantam os olhos para o alto e gritam bobagens que se perdem também no vento.
E o avião continua o seu rumo, ignorando o que se passa aqui embaixo...enquanto eu vou sentindo uma vontade imensa de ser também esse pássaro metálico , que voando no espaço azul segue um caminho apenas por ele conhecido. È curioso como as vezes sentimos uma vontade enorme de sermos outra coisa que não seja nós mesmos.Lembro minha infância de menina de subúrbio que quando escutava o ronco de um avião , saía correndo e apontando para o alto gritava bem alto : “ Lá vai um avião “... “lá vai um avião” !
E o avião passava no seu balé modulado , rasgando o espaço vaidoso, sem imaginar que uma boba menina batia palmas de alegria para ele.
Hoje seria ridículo se ao vê-lo , eu saísse à rua gritando : “ Lá vai um avião”. ( No mínimo diriam : “ coitada é uma louca !”)
Como sofrem os adultos por não poderem ser espontâneos ! Como as coisas mudam com o passar vertiginoso do tempo ! Só o avião continua indiferente as trilhas dos anos e dos destinos !
Talvez seja justamente por essa indiferença que eu o invejo nesse instante.
Rasgar os céus , conhecer de perto o sabor das núvens , atravessar mundos , ignorar os problemas dos que caminham em campos minados de dor, adejar livre, completamente livre por sobre casas, homens, ambições e sofrimentos . Totalmente liberto, isento de leis, de ritos ... um avião apenas.
Acredito que poucas pessoas irão entender esse meu texto ! Afinal , todo poeta tem seu lado louco !E hoje dentro dessa insanidade poética ou ridícula eu cismei de ser um avião .

sábado, 16 de janeiro de 2010

NO ESPELHO

EU !
Um muito de nada!
Um muito de tudo!
Sem subterfúgios.
Exigente, malcriada
,afoita , bandida...
Moleca, vadia , despreocupada.
Por momentos delicada, noutros rude, desconfiada.
Outras vezes, meiga e atenciosa.
.Amarga e doce ao mesmo tempo.
Discreta, calada ,observadora.
Não gosto das linhas retas,
Tortuosos são os versos dos meus poemas.
Ando pelo avesso
quando me sinto menina no sorriso
e mulher no instante da paixão.
Não sou anjo nem demonio.
Mas conheço de perto o céu e o inferno dos homens.
.Sou dividida em mil pedaços
Mas em todos esses fragmentos eu me encontro inteira .
E continuo sendo EU.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

LIBERDADE


Tal qual um manso lago
as vezes mar bravio,
é o meu coração.
Não temo as borrascas
do tempo...
Nem correntes
que prendam minha alma .

Navego tranqüila
num vôo
por mim criado.
Onde sou única
timoneira no meu leme,
gaivota desgarrada
no espaço.
Nuvem branca
no meu céu interior.

Não crio raízes
nos canteiros do meu destino.
Colho do mundo
todas as flores...
E banho a minha nudez
com o orvalho
de uma eterna liberdade .

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

PENSAMENTOS ( MESA DE BAR ).


As vezes fico pensando e refletindo , que não há nada em seu devido lugar nesse mundinho chamado Terra.

O céu é longe ! A espera cansativa !

A dor próxima ! A lágrima vizinha !E a alegria passageira ...

Homens e mulheres se acotovelam buscando sonhos nas mesas de bares , e findam vazios diante de copos repletos de bebidas. ...

Parece existir uma espécie de solidão dialogada dentro de cada um ., numa busca eterna de amor, de dividir sentimentos, tentativa continua de ressuscitar alguma coisa que morreu.

Sorrisos se confundem, mãos se entrelaçam, bocas se unem e corações continuam sozinhos .

De repente algum conhecido se aproxima de mim e pergunta : " Tudo bem"?E eu respondo com um sorriso brejeiro : " Tudo ótimo " !

O coração gargalha no meu peito !

Disfarço , acendo um cigarro , olho ao redor ... e as coisas e as pessoas continuam fora de seus respectivos lugares .

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

SOMBRAS


Eram duas sombras
Que se abraçavam sob o mesmo teto.
Eram duas vozes
Que entoavam a mesma canção.,
E duas bocas que silenciavam
Num só beijo..

Hoje o vento fustiga
As arvores despidas
E a casa responde num gemido rouco...

Apenas uma sombra a passear
Pelos corredores vazios!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

MEDITANDO ...

Muita gente já cantou em versos, prosas e canções um resumo do que venha ser a vida. Digo resumo , porque a verdade é que até hoje ninguém soube defini-la a contento. Se para uns é um jogo de xadrez sem direito a xeque mate, para outros um passatempo,uma eterna via crucis,e ainda existem aqueles que a consideram uma grande aventura .No entanto penso eu que ninguém parou ainda para olhar a nossa posição diante da vida.!Julgamos a vida , mas não nos julgamos1 Basta que pensemos que somos peregrinos vindos de terras distantes onde fomos praticantes de virtudes e erros ,e onde cantamos as mesmas canções de hoje , chorando também as mesmas lágrimas de ontem, para que compreendamos que somos nós os únicos responsáveis pelo céu e pelo o inferno que nos acompanha. Daí porque é pura insensatez , querermos penetrar o Universo da própria vida , pois iríamos sempre voltar ao ponto de partida. Quem de nós não vive rodeado de lembranças ? Quem não se reveste diariamente em esperanças ? Faz muito tempo entendi que a esperança é o único sentimento que se encontra no processo regressivo e no movimento progressivo do desejo de cada um . E é assim que costumo me situar dentro da própria vida . Sem análises, sem sofreguidão, ora destemida , ora preguiçosa , sem planos edificados , pouco me interessando em seguir os caducos e falidos padrões impostos por regrinhas criadas por pessoas que se auto denominam de sábias , e que lá no âmago não passam de frustradas por culparem a vida da própria incapacidade em não saber vivê-la. E dentro desse meu pensar e viver meio maluco, já deixei faz muito tempo de guardar mágoas ou colecionar erros cometidos . Quando me atiram tijolos, construo edifícios . Quando me presenteiam limões , aproveito para fazer um gostosa limonada ! E assim nessa hibridez que compõe o meu perfil observo no calendário as folhinhas de mais um ano que me é apresentado . Agora é só continuar a missão que um dia me foi destinada,na certeza de que depende unicamente de mim aprimorar ou deixar de lado todas as lições aprendidas .

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ALGUMA COISA


Alguma coisa ficou a ser dita.
Alguma coisa que nasceu repentinamente
E morreu antes de ser realizada.

Eu sei que alguma coisa ficou perdida
Num lago distante
Numa nuvem passageira
Num rio que secou
Num grito que morreu na garganta.

Alguma coisa que era pesada
Demais para um sonho,
E ingênua demais para a vida ...

Alguma coisa minha que até hoje
Não consegui encontrar .

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

LEMBRANÇA

A mesma paisagem
de ontem...
retrata hoje
uma nova realidade.

O assovio das folhas
dos coqueiros cantam
uma melodia diferente !

Caminho na garôa ...
Passos tristes
sem rumo...
Vendo ao longe o teu sorriso
me acenando no azul do mar , numa saudade
envolta em brancas espumas...